domingo, 17 de junho de 2012

Nota ao público

Pensando em fazer um blog anônimo para contar as peripécias que aconteceram no último mês. Tenho vontade de contar pra tentar ser sarcástica e levar no bom humor, mas e o medo da galera ler e querer vir 'ajudar'? Cansei de falar da minha vida e as pessoas tentarem solucionar, mas sem dar soluções.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Chega.

Era o que me faltava. Vejo a gota de água a resvalar em câmara lenta pela borda do copo. Era um erro à espera de vaga, não percebe? Há a emoção e então o que você faz com ela. E a gente não controla sentimento, mas controla a atitude.  


I spend every hour waiting for a phone call
That I know will never come
I used to think that you were the one
Now I'm sick of thinking anything at all

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Stronger

Christina Aguilera falava por mim há uns meses atrás cantando 'And suddenly, it's hard to breathe' (como vocês bem viram aqui). Hoje numa conversa de twitter, vi o quanto as coisas mudaram. Não quero entrar em detalhes, não quero mais explicar e justificar tanto minha vida, mas, deus, que mudança. Uma volta por cima. Já tinham previsto isso, mas na época, eu não acreditava, não enxergava esse futuro. E, caso enxergasse, nunca imaginaria que chegaria tão rápido. 

Não fico remoendo, revendo, analisando o que aconteceu. Não preciso. Quando tenho a certeza que agi corretamente e estou certa, não olho pra trás, não revejo minha atitude, porque é tão simples de enxergar. Mas também não esqueço, não perdoo. As vezes me enxergo com uma alma de Amanda Clark, esperando, silenciosa, o dia que poderei dar o troco. Ou como menina Pollyanna falou, Tieta voltando para Santana do Agreste, rica e humilhando todos que fizeram ela passar por dificuldades tempos atrás. Mas na verdade é só uma vontade de que saibam o quanto eu tô bem, em tão pouco tempo. E engulam tudo que falaram e se arrependam das atitudes.  

Há pouco ouvi essa música e, meu deus, quero embrulhar numa caixinha de presente com laço de fita e mandar pra as pessoas que merecem. Com um bilhetinho "Thought I would forget? But I remember.". E vou lembrar pra sempre. Mas eu agradeço. Sou uma pessoa tão melhor hoje. Tão melhor. 

http://www.youtube.com/watch?v=PstrAfoMKlc

domingo, 11 de março de 2012

P.S.




Queria dizer que o post abaixo foi escrito em plena TPM adicionada à solidão do 1° sábado a noite sozinha. E muitos dias bate essa depression feelings e realmente tudo isso vem à cabeça. Mas na maioria das vezes, é um estar fudida na vida e sorrindo. Sem ser falso, sem ser teatro. Realmente bem.






Uma coisa bem "mesmo triste, eu tava feliz".


sábado, 10 de março de 2012

Dos desabafos presos na garganta

Eu sinto falta de um diário. Deixei meu caderno de pensamentos em Brasília e ele bem já estava no fim, então não ia adiantar muito. Mas há um desejo gigante de escrever e escrever, sem saber do que estou falando e onde vou parar, com a consciência que não vou ser julgada ou ser lida por quem não quero que saiba da minha vida.

Há um tempo venho procurando assuntos diversos para falar em público, seja na internet ou no ao vivo, qualquer assunto que não seja as coisas pesadas que constituem minha vida. As pessoas falam que eu faço muito drama sobre tudo e olha, bem concordo. Mas aí lembro do tanto de coisa que aguento calada, que nunca abro a boca pra expor e veja bem. É tanto, tanto. Tinha uma menina na minha faculdade que culpava tudo na vida dela pela depressão que ela tinha. Depressão que veio por não inúmeros problemas, até reais e dignos. Mas sempre odiei essa atitude. De ser a coitadinha na vida, de culpar seus erros atuais pelo passado, de serem brandos e amenos com você porque existem situações piores do que aquela. Sempre engoli meus problemas a seco. Os grandes, eu digo.

E aí eu vou digitar ou conversar com alguém e antes olho pra todos os itens da minha vida e: silêncio. Não tenho do que falar, não tenho assunto que não seja um triste ou que provoque pena ou a famosa frase "ai, sei nem o que te dizer". Consigo fazer piadas em alguns temas ainda, naquela fuga de buscar o sarcasmo como uma forma de fingir que não tá doendo. Está. Muito. E minha risada quebra no meio e meu olhar deve ser triste, porque até as pessoas deixaram de acreditar que não me faz mal.

E é até engraçado a ironia de algumas situações. A confraternização exagerada com o "inimigo", como se fosse uma vontade de descobrir o porquê, uma busca pelo sofrer quando chego em casa. As pessoas reclamando de falta de dinheiro enquanto compram carros e viagens ou choramingando sobre seus empregos. A volta em looping infinito para o passado, simplesmente porque não há futuro. Novamente, uma risada vazia. Porque cansei de rir de mim mesma. Cansei de ser forte.

E cansei de falar também, de me explicar, de detalhar, de falar sobre. Sobre tudo e qualquer coisa. Até minhas histórias paralelas que me faziam esquecer o essencial não me agradam mais. Sufocam. Vi meus sorrisos se tornarem vazios e, aos poucos, começo a ver minha voz indo junto. Ariel, de novo. E só penso que quero refúgio, não sai da minha cabeça dias de isolamento e minha vontade é um edredon gigante e vários Twix. Até sarar, até curar. E vai?

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O fechar das cortinas

Aconteceram situações nos últimos dias que me fizeram sair da minha personagem. Eu já tinha falado muito sobre isso nesse blog, principalmente aqui e aqui .

A personagem de putetê, de festas e farras e loucuras sem fim, eu deixei pra trás há 7 meses atrás, quando fui embora de Salvador. Como previa, ela não voltou assim que pus os pés de volta na cidade. Era de se esperar, depois de tudo que passei, dos tombos e tapas na cara que levei. Mas teve gente já perguntando, questionando, procurando por ela. E não faço ideia quando vai voltar.

Aí tinha a outra personagem. A do caso amoroso. Que eu nem criei, veja bem, veio por si só e tomou formas pela boca do povo. Meu único erro foi nunca negar, nunca consertar o achismo que existia. Foi ficando maior e virou certeza. E eu deixei, por mil motivos. Porque era cômodo, porque era chamativo, porque era um esconderijo pra meus sentimentos verdadeiros. E agora, que a verdade apareceu, quem eu gosto de verdade se tornou público, tudo começa a ficar claro na minha cabeça. E esse menino lindo, Thiago Oliveira (que, olha só, é o meu suposto cunhado na invenção romântica), que me abriu os olhos e me fez enxergar tudo que eu sou e que devo mudar. Pra ficar bem explicado, só lendo o passo a passo do meu cérebro descobrindo meu eu:

Thiago Oliveira
E por que você nunca disse que gostava dele?

Mariana Coelho
Porque: pra que?
Eu sabia que ele não queria ficar comigo, que me via como amiga e que eu não sou o tipo de mulher que ele curte e não rola clima.
Ia falar pra ficar nessa situação que to odiando hj?
Era cômodo pra mim ele achar que eu gostava de Silvério, era uma personagem.

Thiago Oliveira
É, sei la, a gente sempre quer o impossível. Algumas pessoas querem o impossível no amor.
Você já pensou nisso?
Se você não ta querendo as coisas erradas?

Mariana Coelho
Já.
Tem um texto que reli hoje, que postei no meu blog que resume.
Pere que pego:

"- Tu pertences a um tipo de mulheres que só vivem a plenitude do amor na distância ou na impossibilidade. És aquilo a que eu chamo uma Mulher Impossível, porque amas com todas as tuas forças os homens que por uma razão ou outra não podes ter. Para ti o amor é a própria luta pelo amor, não é uma construção nem uma edificação. Por isso não te casas, não crias as bases para ter uma família, e ser uma esposa exemplar.

Talvez o meu estado de encantamento seja exactamente este, o pré alguma coisa. Foi o que mais gostei de viver com o Ricardo e também com o Francisco. O ANTES DE. No durante as coisas já não correram tão bem. Talvez eu goste de gostar, goste de me apaixonar, goste do trabalho que tudo dá ao princípio, sem investir na realidade. E talvez a minha limitação seja exactamente esta; a de não saber sobreviver ao dia-a-dia sincopado e circular da monotonia da convivência permanente que mata quase tudo, a paixão, o fogo, o mistério e até a proximidade."

- Bem, esta conversa já está muito longa, mas sabes o que é que eu acho? Que tu no fundo ainda não cresceste, ainda vives o amor de uma forma lírica, muito adolescente. Eu espero que tu nunca percas essa frescura e entusiasmo pela vida e pelos outros, mas tens que crescer um bocado, Inês, não podes continuar a achar que és a Gata Borralheira...
- Ou a Dorothy, a correr pela estrada dos tijolos de ouro."

Mariana Coelho
Sou eu D:

Thiago Oliveira
Mas você quer ser assim? Para sempre?

Mariana Coelho
Não né, mas como escolhe? Já tentei ficar com quem me queria e foi brochante, vivi 2 anos vazios porque não era o que eu queria. E quem eu quero não me quer eternamente.
What can i do?

Thiago Oliveira
Não precisa ficar com quem te quer.
Quer dizer, esse seria um bom passo. Mas é mudar mesmo, esquecer certas coisas.
A gente não pode passar a vida fingindo que somos personagens.

Mariana Coelho
Não sei.. Eu tento, sei lá, eu não gosto de ficar nessas, de passar 6 anos com seu irmão sem ter nada sério e mais 3 anos gostando de outro que nunca nem fiquei.

Thiago Oliveira
É legal e tal, é massa fazer metaforas de si. Brincar, fazer paralelos com historias. Invente uma nova personagem q não seja essa.

Mariana Coelho
Pois é, eu já tinha reparado isso hoje mais cedo, que eu tinha que mudar meu externo, o que as pessoas veem, porque assim não dava mais certo. É uma farsa, sempre e quando eu me mostro de verdade, nego não entende ou não gosta. Aí eu volto atrás pra o teatro e é uma merda.

Thiago Oliveira
Mas você acha que é um problema de percepção dos outros ou de como você se comunica?
Porque a percepçao dos outros é difícil de mudar, mas você pode se mudar mais facilmente [embora seja difícil também].

Mariana Coelho
De como me comunico.
Porque eu percebo que faço o teatro.
Esse negocio mesmo de nego achar que eu gosto de Silvério, eu podia tão facilmente ter resolvido isso, só bastava negar 1 ou 2 vezes. Mas não, fiquei nessa punheta pra me esconder e pra fazer historinha pro público.

Thiago Oliveira
Mas você gosta da atenção que recebe por ser a rejeitada.

Mariana Coelho
Não necessariamente a rejeitada, mas adoro por exemplo que beijei ele no palco de formatura e todo mundo ficou "eu sabia, vocês vão casar, etc" e de coisas como Geovana me parar no meio do carnaval e armar um plano pra ele acabar com namorada e voltar (????????) pra mim.
Eu gosto de ter história, de ser atriz principal.

Thiago Oliveira
Então.
Mas não deixa de ser o papel da que não está com o cara que ama.

Mariana Coelho
Mas nao é de ser a babaquinha que ama ele e ele não me da bola... É uma vibe de "a gente se ama mas nao dá certo".
Sei la, ó pra minha cabeça, que complicação.
E hoje que isso tá caindo em realidade pra mim mesmo, que eu realmente fiz tudo isso.
Tipo, não que meu sentimento por ele seja zero. Não tem como né, 6 anos de romance, não tem quem não sinta nada. Mas também não é tudo isso que eu deixo as pessoas falarem e acharem que é.

Thiago Oliveira
Então, são os ganhos secundários das opções que você faz.
Você não fica com o rapaz, mas fica com essa coisa de injustiçada da vida, de sofrida e tal.

Mariana Coelho
É.
Maria do bairro.

Thiago Oliveira
É.

Mariana Coelho
Aff sou muito tosca.
HAHAHHAHAHHAHA
jesus

Thiago Oliveira
Muita gente é assim.
Muita.

Mariana Coelho
É, mas sei lá, eu tenho que definir aonde termina o personagem e onde começa a verdade. As duas coisas existem, mas peco mais pro lado da farsa e tenho que parar com isso.
Tipos que eu queria entrar com Legião ou algo do tipo na formatura e me proibi porque não combinava com quem eu era na faculdade. Tipo isso.

Thiago Oliveira
Mas pense nisso, no lugar que se coloca no mundo, até em como você fala sobre você.

Mariana Coelho
É.
Tenho que parar de me queimar.
Aquelas coisas "macaco de circo é divertido, mas não é sensual". Não que eu queira ser sensual o tempo todo, mas eu só sirvo pra ser porra louca e divertir os outros, mas acaba por aí.

Thiago Oliveira
Não sei também, viver para os outros é um cu
Mas é uma super parte da vida social.

Mariana Coelho
Mas a gente tem que parar de pensar nos outros e pensar mais na gente. Igual tava falando no twitter outro dia, fico curando deprê de neguinho que não cura a minha depois.. Mando mensagem de madrugada preocupada e quando sou eu, nego só pergunta 3 dias depois se tá tudo ok.
Então né, tipos, largar o foda-se e ser você e quem quiser que aceite.

Thiago Oliveira
Velho, viver sem ligar para os outros não existe.
Existe escolher as pessoas.

Mariana Coelho
Sim, mas num nível "me aceitem" porque eu sou assim e pronto.
Não ter que fingir pra ser aceita, pra ser linda.
Sei lá, eu nunca posso estar triste, chorando ou ouvindo musicas deprês que nego vem "ah, você não é assim, pare com isso"
Broder, quem disse que eu não sou assim? Sou muito assim. Mas eu sociedade eu finjo que não sou. Ai quando quero ser, nego nao me dá o direito de ser nem por um determinado tempo?

Thiago Oliveira
É. É foda. Mas nunca me disseram esse tipo de coisa, me poupe. É um horror, alguém dizer isso.

Mariana Coelho
Pois é, mas é sempre assim. Todo comportamento que eu tenho fora desse personagem público, nego recrimina e diz que não sou eu, que é pra eu mudar. Sem percerber que aquilo ali sim sou eu.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

...


Queria poder usar reticências na vida real, porque tem certas coisas que só se responde com "...".

Passei a última semana respondendo negativamente quando me perguntavam se eu estava empolgada ou ansiosa pra ir pra Salvador. Porque realmente não estava. Não era um sacrifício também, mas também não era uma felicidade. Ausência de sentimentos, como há meses vejo acontecer aqui em mim. Ia porque tinha coisas sérias pra resolver lá, as provas que tenho que fazer. Somente.

Engraçado como as coisas podem mudar tanto em questão de horas. Agora, depois de discussões, não vejo a hora de pisar em solo baiano. Minha vontade a tarde toda foi catar as malas e esperar até amanhã no aeroporto mesmo, só para ficar sozinha. Porque é isso que (mais uma vez), a vida me mostra. Que eu tô aqui sozinha e tenho que aprender a estar e ser assim. Ser independente e esperar quase nada das pessoas. Porque é isso que elas estão dispostas a dar.

Enfim. Só mais um dia. Dentre tudo dos últimos meses, é pouco. É como um presente, saber que não vou ter que esperar nem 24h pra essa agonia no peito acabar.

Mas os últimos dois parágrafos do post abaixo nunca fizeram tanto sentido. Vou descobrir logo mais o que vai acontecer e se eu estou preparada. Se sim, ótimo, vou levar pra vida essa lição que eu vinha tendo em doses homeopáticas há anos, mas só agora se tornou real. Se não, melhor ainda. Que venha o que tiver que vir. Foda-se. I don't care anymore. Cansei.

"Quem esquece o passado está destinado a repeti-lo."


Eu sei que eu tô fazendo merda. Eu sei que é um erro. Eu sei. Mas um erro é um erro quando ele é a única opção existente? Continua sendo um erro quando na verdade você é forçada àquele caminho, por que não há nenhum outro que você pode escolher?

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O peso do mundo em minhas costas


Eu não consigo entender muito bem as pessoas que me obrigam a tomar decisões ou dar respostas que eu ainda não tenho. Como te dizer o que eu quero, o que eu vou fazer, o que será, se eu mesma ainda não sei? Como escolher se eu ainda não tenho todos os fatores que interferem aqui na mão?

Me tratam como se eu estivesse de manha, como se fosse uma defesa ou uma forma de ser mimada pela insistência do lado de lá. Antes fosse. Antes tudo dependesse das minhas emoções infantis não resolvidas. É tão mais profundo.

E em 2 dias eu pego um avião sem passagem de volta comprada. Igual eu fiz 6 meses atrás. Mas na época a mala vinha cheia de saudade, mas com muita esperança, com alma limpa, com vontade de ver o que ia ser e com fome de viver aquilo. Tudo caiu, os sonhos, as certezas, as vontades. Sobrou medo, desamparo, crises, depressão. Foi terrível, de um jeito que eu nem sei explicar ou falar sobre. Hoje olho pra trás e nem sei como sobrevivi. "Ali onde eu chorei, qualquer um chorava. Dar a volta por cima, quero ver quem dava.".

Há quase dois meses tudo melhorou, em pequenos passos, aos pouquinhos e com doses diárias de sorrisos e carinho. Um dia eu deitei na cama e dormi sem chorar, sem rolar no colchão por horas e sem pensamentos horríveis embalando o sono. Era tudo que eu pedia há muito tempo.

Agora é hora de deixar tudo isso para trás. Hoje comecei a separar roupas e pertences sem saber quanto tempo ficaria fora, sem saber se levava o mínimo ou o máximo. Enquanto isso, Guilherme sentado na cama ouvindo músicas infantis no meu notebook quase me fez chorar. Porque percebi que é real. A despedida. E a onda de insegurança e receio começou a vir e foi piorando.

É desesperador não saber como será seu futuro. E não falo futuro como algo que vai acontecer daqui a meses ou anos; se eu vou casar, ter filhos, como vou morrer, se vou ganhar muito dinheiro. Falo de futuro próximo, de não saber onde vou estar morando daqui a 2 semanas, não saber se vou ter dinheiro pra comprar comida daqui a 1 mês, não saber se vou ter as coisas básicas para (sobre)viver. Futuro: desconhecido.

O desespero é gigante e toma conta de tudo. São dúvidas que eu nem sei expôr e não tem quem console. E é esse sentimento que eu queria que as pessoas entendessem quando me fazem perguntas que eu não consigo responder. Se elas ouvissem 10% do que passa na minha cabeça, não estariam preocupadas em me perguntar de festas, carnaval, bebidas e encontros. Porque eu não consigo mais me importar com pequenezas quando existem ondas gigantes me afogando.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Isso também vai passar


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.

Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.

Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca …

(Caio Fernando Abreu, traduzindo meus últimos meses)