quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Bobo da corte


As pessoas andam pedindo para eu ficar em Salvador. Principalmente as que não são tão minhas amigas assim. (As mais próximas, não sei. Acho que é sempre mais difícil imaginar que a pessoa vai embora de verdade e mais complicado de assumir que quer que ela fique. E elas entendem que não cabe a elas exigir aquilo. Mas enfim:) Elas falam que eu sou muito alegre, muito contente e muito divertida pra ir embora (?). Porque eu combino com Salvador e pareço baiana (?). Porque o Mev vai ficar diferente sem eu estar lá e não tem ninguém pra me substituir (essa sem ponto de interrogação, porque eu concordo - hahaha).

Aí eu me pego pensando: mas só é possível ser boba-alegre em Salvador? Só dá pra ser essa pessoa extrema na Baêa? E a resposta é: sim, só aqui.

Não é nem uma questão de cidade em si. É tudo que eu vivi e criei em torno de mim e me construí. Aquela velha coisa que eu venho falando a meses aqui: a personagem. E agora, em horas de despedidas, as pessoas resolvem ficar sentimentais e declarar seus sentimentos. E eu já ouvi "ela chega nos lugares e anima o que tiver acontecendo", "dá pra escutar sua voz de longe já, porque você tá sempre agitada com alguma coisa", "não tem menina igual você no Mev, com sua atitude", "você deixou tudo mais empolgante", "seu sorriso tava enorme, você era a mais feliz", "o palco era seu", "você é engraçada demais, Mari" e milhões de outros elogiozinhos que vão revirando o estômago e te fazendo feliz pelas conquistas. E eu sei que a faculdade me criou assim, que meus amigos já sabem como eu sou e me aceitam, que a fama que eu tenho não se cria em 2 meses e que tudo é diferente onde pra onde quer que eu vá e não seja isso daqui.

Vi isso no meu estágio supervisionado. Era na cidade do lado, em um hospital veterinário, mas parecia outro mundo. As pessoas eram tão estranhas, minha energia ficou outra. Nunca consegui me soltar e ser eu de verdade. Nunca me conheceram lá como eu realmente era na UFBa. E as vezes parecia que eu ia explodir pra dentro de tanta mudança, de ser tão diferente do que eu estava acostumada, dos tratamentos serem estranhos, da visão das pessoas serem erradas. E as vezes eu parava de me ligar, porque eu sabia que aquilo ali era passageiro, que não era minha casa, que eu não precisava me doer tanto. Porque acabava o dia e eu corria pros braços de quem importava.

E agora indo embora de vez, rola o medo de acontecer a mesma coisa. De ir e me deparar com festa estranha, gente esquisita. De nunca mais poder ser quem eu fui esses últimos anos, de nunca mais ter a chance de mostrar o TANTO que eu posso. De estar pra sempre em segundo plano, rindo ou torcendo o nariz pro palco dos outros, não sendo o papel principal das histórias. E, deus, quanto sarro eu já tirei deles, revirando o olho e falando "é coadjuvante"? Quantas vezes eu já me peguei com medo de ser uma dessas menininhas populares de colégio americano que, quando acabam o ensino médio, só fazem decair na vida? O quanto eu simplesmente não-consigo ser segundo plano?

Às vezes sinto que estou abrindo mão de todas as festas, as farras, as diversões, da vida. O trote do semestre que vem chega e eu provavelmente não vou estar aqui. E é difícil ver o restante da Organização que sobrou arrumando as coisas e você ficando calada pra não opinar demais, porque não cabe mais a você aquilo. É difícil ver Comissões de formaturas novas sendo formadas na mesma semana que a sua acabou. É difícil pensar em gente falando sobre o carnaval do próximo ano sem saber se você vai poder estar aqui mesmo. Agora é uma saudade de um tempo que já passou. E me levou com ele.

E outras tantas vezes, eu penso que já acabou mesmo. Tudo que eu sinto falta, não é uma falta que seja da cidade. É saudade da faculdade. Que acabou, acabou mesmo e não volta. Eu ficando, me alimento de migalhas que nunca vão me satisfazer, porque eu vivi o Mev com a intensidade que poucas pessoas viveram. Então qualquer coisa que for menos do que eu já tive, vai ser quase inútil. Eu vou viver de passado, de restos, de pedacinhos de memórias que a gente vai revivendo aos pouquinhos ao longo do tempo. É uma espera infinita por algum dia perdido no meio do caminho. E o resto do caminho todo sendo andado com pés machucados e joelhos esfolados. E eu não quero isso pra mim.

É como se eu tivesse que escolher entre ser feliz epicamente, uma vez por mês, na festa da vida... ou feliz todo dia, em pequenos pedacinhos, com sorrisos leves e paz relaxante. E eu já tive MUITO da primeira opção, já vivi tudo que tinha pra viver, já me permiti. Tá na hora de (re) conhecer ser feliz todo dia, o dia todo. Tá faltando.

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