terça-feira, 16 de agosto de 2011

Estamos indo de volta pra casa


Ontem eu enrolei horas pra dormir. Já com o o olho ardendo e o tédio gigante chegando, mas me debatia pra desistir. Não entendi bem por que, mas sabe quando bate uma ansiedade do nada e ela vai crescendo, crescendo e crescendo até se tornar maior que você? Foi algo do tipo.

Quando finalmente botei a cabeça no travesseiro, veio um rio de lágrimas. Gotas desesperadas, descendo sem nem esperar o motivo para estar ali. Milhares de imagens vindo na cabeça, momentos do passado que eu sei que não vão mais se repetir e premonições de um futuro próximo que chega à galope: minha despedida.

Isso me deixou com (muito) medo. Porque até então (e ainda agora) eu estava (estou) bem tranquila. Na minha, de boa. Como quem arruma uma mochila pra passar um feriado fora. E a preocupação toda é que a ficha ainda não tenha caído. Que eu me dê conta somente na hora de dar o último abraço nas pessoas que aquele vai ser o único abraço por meses. Que eu entenda só no último momento o que ir embora dessa cidade significa. Que eu fique desesperada e desista. Que eu tenha ataque de pânico e enlouqueça. Que eu deixe os sentimentos falarem mais alto que a cabeça.

É estranho me imaginar saindo de Salvador triste. Todas as vezes que comprei passagem pra sair daqui, era com um suspiro de alívio preso. Suspiro que eu soltava assim que chegava no local do destino. Podia ser pra ver a família, viajando em interiores da Bahia, indo pra cidades distantes. Era sempre um prazer não estar na cidade que eu era obrigada a estar. E agora? Será que vou pisar no aeroporto de Brasília odiando tudo por lá? Será que o nó na garganta vai existir quando o avião sair de Salvador? Será que vai ficar tudo ao contrário, como um reflexo no espelho? Será que eu vou querer voltar no instante que chegar?

E as coisas que podem dar errado lá. Infinitas. O medo de não dar certo, de não vencer, de não ser feliz. As regras da família, as confusões mineiras, a prisão que eu odeio tanto. A solidão, a vida sem graça, a "adultice". A saudade. O que tô deixando para trás aqui e que nunca mais vou encontrar igual. Minhas coisas, minhas pessoas.

Tudo isso vai passando pela cabeça enquanto as malas vão enchendo. Já são três. Lixo/doação, tanta coisa que eu nem sabia mais que tinha, tanta coisa que eu vou sentir falta mas não é mais útil, tanto passado. "Vai depois" cheio de memórias, antigos diários, álbuns de fotos, livros queridos, cadernos. E a de agora, com os vestidos e sapatos queridinhos que ficaram, os porta-retratos, as maquiagens e esmaltes. É difícil ver no que se resume suas coisas, no que se resume você. Uma casa nunca foi tão minha, nunca morei em um quarto por tanto tempo. A porta do armário que emperra, as escrivaninhas branca-e-madeira que eu copio no The Sims, o adesivo da Pucca no espelho do banheiro, os colares de Gandhy pendurados na cabeceira da cama, o chuveiro frio, a porta cheia de penduricalhos, coelhos por todos os lados, o colchão de 17 anos, o chapéu de cowboy escondendo a torneira. Ver isso vazio vai ser como ver minha vida vazia. Apagada. Deixada para trás.

Acabou mesmo, de verdade. E eu nem acredito.

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